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Em mais um Dia Mundial da Diabetes, publicamos a entrevista com Dra. Ana Isabel Oliveira, médica endocrinologista do Hospital de Santa Maria – Porto, que alerta para hábitos que minimizam o risco de complicações na doença, assim como para a importância da educação terapêutica, que atribui ao doente as competências e a informação de que este necessita para que, em conjunto com o seu médico, possa fazer uma gestão adequada da sua condição clínica.
O que é a diabetes?
Diabetes Mellitus (DM) é uma doença crónica cada vez mais frequente na nossa sociedade, caracterizada pelo aumento dos níveis de açúcar (glicose) no sangue, ou seja, a hiperglicemia. As pessoas com diabetes podem vir a desenvolver uma série de complicações – em praticamente todos os países desenvolvidos a diabetes é a principal causa de cegueira, insuficiência renal terminal e amputação de membros inferiores. Esta doença constitui, atualmente, uma das principais causas de morte, principalmente por implicar um risco significativamente aumentado de doença coronária e de acidente vascular cerebral.
Como se pode reduzir o risco de complicações?
É possível reduzir o risco dessas complicações através de um controlo rigoroso da hiperglicemia, bem como de uma vigilância periódica dos órgãos mais sensíveis (retina, nervos, rim, etc.). Além disso, como a diabetes mellitus frequentemente se acompanha de outros fatores de risco vascular, o controlo da hipertensão arterial e da hipercolesterolemia, entre outros, é também essencial.
A diabetes trata-se com medicamentos, mas não só, certo?
Existem 4 pilares do tratamento da diabetes, na perspetiva do doente:
É importante que o doente perceba que não se reduz tudo à alimentação nem aos fármacos. Quando nos focamos num só destes pilares e não há controlo glicémico adequado, é frequente descobrir que algum outro não está ajustado. Por exemplo, se um doente precisar de 40 unidades de insulina e só estiver a fazer 20 unidades, por muito que controle a alimentação e que cumpra a medicação, não vai estar controlado. Ora, o médico só pode ajustar em consultas as doses de insulina adequadas se receber informação adequada e real por parte do doente, pelo que, se o doente não trouxer dados ao médico, a escolha do plano terapêutico torna-se muito mais difícil. Isto remete-nos para a importância da cooperação entre o doente e os profissionais envolvidos (médicos, enfermeiros etc.)
De acordo com a sua experiência, quais são os principais conselhos a dar sobre alimentação às pessoas com diabetes?
A maior parte dos doentes melhora substancialmente o controlo glicémico e do peso com o aumento da ingestão de alimentos ricos em fibras, nomeadamente os legumes. Na minha prática, as famílias que por rotina iniciam as refeições principais com um prato de sopa de legumes tendem a ter mais facilidade de controlo de peso e diabetes. Em segundo lugar, é fundamental limitar o consumo de refrigerantes e alimentos ultraprocessados que tendem a estar na maioria das casas portuguesas. Também a distribuição desadequada dos alimentos ao longo do dia frequentemente faz com que o doente tenha “fome” em determinados momentos, tipicamente ao fim do dia, com um impacto muito grande no controlo da quantidade e qualidade de alimentos ingeridos.
O que é a “educação terapêutica do doente”?
A educação terapêutica engloba não só as estratégias de mudanças de estilo de vida, como também o autocontrolo da diabetes através de pesquisas de glicemia quando necessárias, a prevenção de complicações como por exemplo o pé diabético, entre outras. Em boa verdade, a verdadeira “educação terapêutica” existe quando o doente se sente capaz de conduzir a sua vida com a doença e isso implica um trabalho de equipa contínuo entre os profissionais de saúde e a pessoa que vive com diabetes. Para que esse trabalho resulte, é necessário que o doente se mantenha motivado e capaz.
E isso passa pelo empowerment da pessoa com diabetes?
Sim, o empowerment da pessoa com diabetes passa por ensinar ao doente as competências necessárias para lidar com a doença. Passa pela necessidade de o doente se focar naquilo que pode e deve controlar, mas também de estabelecer um plano terapêutico em conjunto com o médico. O doente partilha da tomada de decisões em equipa, na qual tem um lugar central e uma voz ativa. Aos profissionais de saúde que os tratam nunca é demais realçar a importância dos sentimentos do doente em relação à doença e ao plano terapêutico. Os doentes devem sentir-se ouvidos e a melhor forma de inspirar um doente a dar o seu melhor é ajudá-lo a sentir-se melhor consigo mesmo.
Como se lida com doentes que não aderem a mudança?
Compete ao profissional de saúde tomar uma atitude terapêutica sempre que necessário e é fundamental não deixar que a inércia ou a desmotivação do doente seja geradora de frustração ou inércia terapêutica por parte do médico.
Médicos confiantes nos fármacos que usam e no plano de tratamento escolhido transmitem confiança ao doente e motivam-no para colaborar. O sucesso vem sempre de um trabalho conjunto em que ambas as partes confiam uma na outra e decidem estabelecer um plano comum.
De acordo com a Organização Mundial de Saúde, este Dia Mundial da Diabetes oferece uma oportunidade para aumentar a consciencialização sobre esta doença como um problema de saúde pública global e sobre o que precisa de ser feito, coletiva e individualmente, para uma melhor prevenção, diagnóstico e gestão da doença.
Para isso, o acesso equitativo aos cuidados essenciais é fundamental, assim como a sensibilização para as formas como as pessoas com diabetes podem minimizar o risco de complicações.
Se tem dúvidas sobre a diabetes e a sua solução terapêutica, o Hospital de Santa Maria – Porto dispõe de uma equipa de Endocrinologia disponível para o/a ajudar.
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