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A cada hora, seis pessoas sofrem um Acidente Vascular Cerebral (AVC) – vulgo “trombose cerebral” – das quais metade corre um sério risco de vida e, nas restantes, resulta uma grave incapacidade física e intelectual. Regra geral, os AVC surgem de uma forma súbita, em homens e mulheres com alguma predisposição genética mas, sobretudo, com estilos de vida pouco saudáveis, simultaneamente, portadores de fatores de risco cardiovascular: hipertensão arterial, diabetes mellitus, tabagismo, obesidade, colesterol e ácido úrico elevados, stress, sedentarismo, etc., para citar apenas os mais conhecidos. Além das próprias vítimas, os AVC atingem também as famílias, os amigos e a sociedade em geral, ou seja, todos nós! Quem cuida destes doentes entende, melhor do que ninguém, a real dimensão e sofrimento desta catástrofe.
Antigamente, achava-se que pouco ou nada se podia fazer, constituindo um AVC um “azar” da natureza, restando-nos confiar na “boa sorte” e alguma esperança numa franca recuperação. Graças à evolução da medicina, hoje, muitos AVC são tratáveis e, acima de tudo, um drama que podemos evitar! A melhor estratégia passa sempre por promover estilos de vida mais ativos e saudáveis, e uma vigilância médica mais apertada na deteção e controlo dos fatores de risco cardiovascular. Mas não basta! Além disso, é essencial realizar rastreios e exames médicos para diagnosticar doenças no coração e nas artérias, designadamente nas artérias carótidas, para despiste de lesões responsáveis pela formação de trombos e trombo-embolias cerebrais, clinicamente expressas através de Acidentes Isquémicos Transitórios (AIT) e Acidentes Vasculares Cerebrais (AVC).
A base desta doença é a aterosclerose, uma grave patologia vascular, responsável pela formação de placas de ateroma nas artérias, isto é, a acumulação de gordura com subsequente reação inflamatória, risco de obstrução e oclusão do fluxo sanguíneo. Com efeito, durante o processo aterosclerótico ocorrem hemorragias, formação de trombos, acumulação de material pultáceo, ulcerações, e outros fenómenos que lesam a integridade da parede arterial, alterando a sua morfologia, comportamento hemodinâmico e reológico. No caso de degradação, os ateromas libertam detritos e outros materiais trombóticos, cuja embolização (trombo-embolismo) causa “tromboses” e “enfartes” no cérebro (AIT/AVC).
As placas de ateroma nas artérias carótidas são uma reconhecida fonte de acidentes trombo-embólicos, cujo sintoma mais característico é a “amaurose fugaz”, isto é, uma cegueira transitória, parcial ou completa, num dos olhos, por trombo-embolismo na artéria da retina. Simultaneamente, coexistem alterações na morfologia das artérias (tortuosidades), cuja rotação e torção dão lugar ao estrangulamento do fluxo sanguíneo. Isoladas ou associadas, constituem uma causa frequente de sintomas de insuficiência cerebrovascular: tonturas, desequilíbrios, zumbidos, cefaleias, desmaios, perda de memória, confusão mental, demência, etc. ou, no caso dos AVC, ocasionar défices motores ou sensoriais, gerando múltiplas incapacidades, físicas e intelectuais, cuja gravidade depende da região e extensão da isquémia (lesão) no cérebro. Além do risco de morte, os AIT/AVC perturbam gravemente a nossa qualidade de vida, autonomia e independência.
O diagnóstico da doença carotídea é hoje mais simples e fiável, através de exames não-invasivos (EcoDoppler, angio-TAC, etc), e de fácil acesso. Estes exames avaliam a localização, a extensão e os riscos trombo-embólicos das placas de ateroma, a fim de se planear o seu tratamento, a tempo de evitar os AVC. A excisão cirúrgica dos ateromas (“endarterectomia”), e a correção de tortuosidades (“coils” e “kinkings”) são recomendadas à luz dos melhores estudos científicos, mas exigem muita ponderação e sólida experiência, quer do cirurgião quer do anestesista. Estas cirurgias são, hoje, susceptíveis de execução com os doentes acordados (isto é, sob anestesia local ou loco-regional), excelente monitorização neurológica e baixo risco operatório. Além da prevenção dos AVC, visam repor a morfologia e o fluxo sanguíneo nas artérias carótidas, por forma a manter uma irrigação cerebral adequada a todas as suas funções.
Em conclusão, o melhor alerta sobre os AVC é que os podemos prevenir e até evitar! A cirurgia às artérias carótidas é disso um excelente exemplo, quando há riscos trombo-embólicos associados à doença carotídea. Neste contexto, se deve nortear a prática clínica e os respetivos procedimentos assistenciais, já que a inércia ou medo em atuar só contribuem para agravar, ainda mais, este flagelo.
Revisão Científica: Dr. João Franklin, Médico de Angiologia e Cirurgia Vascular
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