O risco da utilização de testosterona por atletas

Dada a situação clínica vivida por um conhecido ator português, que tem sido tema na Imprensa e televisões nacionais e que tem vindo a suscitar o interesse de toda a população, entendemos importante explicar aqui o que são as substâncias esteroides anabolizantes e, principalmente, quais os riscos da sua utilização sem ser por necessidades imperativas de saúde.

Os esteroides anabolizantes (esteroides anabolizantes androgénicos) são derivados sintéticos da testosterona (a “hormona masculina”). Provocam crescimento muscular (efeito anabólico) e o desenvolvimento de carateres masculinos, como aumento da força, engrossamento da voz e crescimento de pelos com uma distribuição típica dos homens (efeitos androgénicos).

Os esteroides anabolizantes são usados clinicamente para tratar níveis baixos de testosterona no hipogonadismo masculino. A sua utilização em atletas, não só na alta competição como no desporto amador ou recreativo, com o objetivo de aumentar a massa e a força muscular e/ou por razões estéticas, em doses muito superiores às fisiológicas, está associada a riscos muito importantes para a saúde e mesmo a um aumento da mortalidade. O uso ilícito destas substâncias, que podem ser administradas por via injetável (intramuscular), oral ou transdérmica (absorvidas através da pele), é, infelizmente, uma prática muito comum, sobretudo em homens (com uma prevalência estimada em cerca de 6% dos homens ao longo da vida).

As consequências do uso de esteroides anabolizantes podem ser ginecomastia (aumento da glândula mamária no homem), atrofia dos testículos e redução do número de espermatozoides, podendo ainda associar-se a impotência sexual e a infertilidade. Nas mulheres, o uso destas substâncias origina crescimento de pelos corporais com uma distribuição tipicamente masculina (por exemplo, no rosto), engrossamento da voz, aumento do clitóris e redução do volume mamário. Nos adolescentes podem antecipar o fim do processo de crescimento e resultar em baixa estatura. Os esteroides anabolizantes podem ainda causar acne, queda de cabelo, alterações hepáticas (no fígado) e mesmo associar-se a alguns tumores. Estas drogas têm também efeitos nocivos no sistema cardiovascular, podendo originar aumento da pressão arterial, alterações nos níveis de colesterol, arritmias, enfarte do miocárdio e morte súbita. Os esteroides anabolizantes também podem associar-se a importantes efeitos colaterais psicológicos, como alterações de humor (depressão / mania), irritabilidade, comportamento agressivo e psicose, com a agravante de poderem causar dependência.

Os efeitos secundários variam com a dose e a droga usada. Os atletas usam frequentemente doses 10 a 50 vezes superiores às fisiológicas. É difícil estabelecer-se uma relação entre um efeito colateral e a dose de determinado esteroide utilizado, porque muitas destas drogas são comercializadas no “mercado negro” e contêm várias substâncias em doses variáveis (que podem não corresponder ao que é indicado no rótulo).

Atendendo à alta prevalência de abuso de esteroides anabolizantes, e aos graves efeitos para os seus consumidores, podemos considerar este um importante problema de saúde pública. A divulgação dos riscos desta prática, sobretudo entre os jovens, bem como o incentivo de estilos de vida saudável, são duas importantes armas na prevenção do problema.

Revisão Científica: Dra. Maria João Matos, Médica Endocrinologista