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O crescimento constitui um dos melhores indicadores do estado geral de saúde de uma criança, dado depender tanto de factores intrínsecos – genéticos, endócrinos ou metabólicos – como de fatores ambientais, tais como a alimentação, doenças, contexto social e até condicionantes afectivos. O acompanhamento seriado do crescimento de uma criança contribui para a promoção do seu crescimento saudável e harmonioso, bem como detectar e intervir nos casos de desvio, não limitando a concretização do seu potencial genético.
Na avaliação do crescimento utilizam-se vários instrumentos, nomeadamente a determinação de parâmetros antropométricos, como o peso, a estatura/comprimento, o índice de massa corporal e o perímetro cefálico, entre outros. Contudo esta avaliação deve ser sempre projectada no tempo e num contexto comparativo comunitário. Para tal, utilizam-se as tabelas com curvas de percentil, presentes nos Boletins de Saúde Infantil e Juvenil. Estas tabelas de percentis são ferramentas que servem dois objectivos: mostrar o padrão de crescimento populacional e determinar o padrão de crescimento individual.
As curvas de percentil são desenhadas com base em dados estatísticos recolhidos em vários países, de muitos milhares de crianças saudáveis, de ambos os sexos. O registo da evolução do peso e estatura de todas essas crianças dá origem a curvas de crescimento que, por comparação, permitem analisar o padrão de crescimento de cada criança. Em Portugal foram adoptadas as curvas de crescimento publicadas pela Organização Mundial de Saúde. Para cada um dos parâmetros antropométricos avaliados, apresentam as curvas correspondentes ao percentil 3, 15, 50, 85 e 97, de acordo com a idade e sexo. Existem ainda outras tabelas específicas, nomeadamente para as crianças prematuras ou para as crianças com algumas doenças congénitas.
Um percentil é cada uma das 100 partes de um conjunto estatístico ordenado, contando cada uma delas com o mesmo número de indivíduos. Assim, se o médico indicar que o seu filho está no percentil 15 da altura, por exemplo, tal significa que, comparado com as crianças saudáveis da sua idade e sexo, 85% serão mais altas e 15% serão mais baixas do que ele. Da mesma forma, se indicar que se encontra no percentil 50 do peso, 50% das crianças saudáveis da sua idade e sexo serão mais pesadas e 50% mais leves.
Neste ponto, é necessário ter em conta que tem mais importância a determinação de medidas seriadas e a observação da tendência mostrada pela curva de crescimento, do que a determinação de um valor isolado. O padrão de crescimento individual é identificado após avaliações seriadas. O conhecimento desse padrão, permite ao médico detectar situações de desvio e possível doença. É pela comparação entre os valores de percentil dos vários parâmetros e a sua evolução, que o pediatra irá verificar se estão adequados e equilibrados ao longo do tempo.
O objectivo não será cada criança crescer no percentil 50. Evoluir no percentil 3 pode ser tão normal como crescer no percentil 85; tal depende do seu potencial genético e de factores ambientais. O facto de uma criança apresentar evolução num percentil baixo, não significa necessariamente um risco para a saúde. Na verdade, apenas para percentis extremos, acima do P97 ou abaixo do P3, se considera existir maior probabilidade (e não certeza) de doença. O mesmo se aplica quando se constata na evolução da curva da criança, cruzamento de duas ou mais curvas nos percentis de referência. Contudo, o próprio percentil da criança pode variar ao longo do tempo. Podem ser normais acelerações ou desacelerações, sobretudo no primeiro ano de vida. Também uma criança que tenha, por exemplo, uma puberdade mais precoce que o habitual pode começar por se situar no percentil 90 da curva de estatura e, depois, estabilizar, passando para um percentil médio.
Comparações com o crescimento de outras crianças, mesmo que sejam os irmãos, não tem qualquer utilidade. Não somos todos iguais. O importante é como tem decorrido a evolução individual de cada criança ao longo do tempo e se apresenta uma evolução harmoniosa e equilibrada entre os vários parâmetros avaliados. Idealmente, a curva de crescimento de cada criança deverá ser mais ou menos paralela a uma das curvas de percentil, ou seja, respeitando um canal de crescimento.
Mesmo não se verificando esta evolução paralela a uma curva de percentil, tal poderá não ter qualquer significado patológico. A observação das crianças por parte de um médico treinado constitui um momento importante, no que respeita à informação e comunicação com os pais. A sua avaliação clínica permitirá distinguir variantes do normal, e detectar outras situações que necessitem de tratamento ou orientação específica.
É ainda oportuno reforçar a importância do respeito e tolerância pela diferença e variabilidade interindividual. Esta variabilidade é normal, e um indicador da capacidade de adaptação ao meio que nos rodeia.
Revisão Científica: Dr. Marco Pereira, Médico Pediatra
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